sábado, janeiro 28, 2006

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Eu te amo. .A primeira vez que disse isso foi por escrito. Numa cartinha encharcada de perfume que era da sua mãe. Começou pelos quadradinhos, depois você, a palavra era difícil de escrever.aaam - ooooo.
A carta passou de mãos em mãos pela classe, mas não foi aberta, o código de honra esquizofrênico da terceira série., Ele ouviu o desencralacar do papel, áspero como gelo, uma pista de patinação tentando ser seca. A nuca dela não mudou por uns 3, não sei, criança não tem muita noção de tempo. A professora que o levou ao banheiro foi sua segunda namorada.

Eu já falei antes sobre os carros. Sobre eles serem como máquinas do tempo, um cálculo que pode ser feito é que se mundialmente as pessoas em média dirigem a uma velocidade entre 40 e 60 quilômetros por hora, Digamos 50 quilômetros, para fins de cálculo. Então se percorreria cerca de 250 quilômetros por dia, o que aumentaria nosso tempo de “dia” produtivo para cerca de 8 horas, o resto do tempo estamos descansando ou tentando descansar ou produzindo. O resto dessas horas no coloca no domínio do Quase.

O Quase, o talvez, o meio termo, a encruzilhada, o no meio do caminho, o no enquanto isso. Então vivemos oito horas por dia. Concluí.
E a segunda coisa que notei sobre os carros:

Carros são demônios, animais pré históricos. Carcaças de metal que esperam na noite para destruir, para dominar. Seus rugidos são os dos mamutes com seus chifres de marfim, assustados, sendo conduzidos pelos verdadeiros caçadores. O ser escolhido de Deus. O Assassino.

E eles rugem, oh como rugem, eles preenchem os vácuos dos céus e o vazio entre os prédios com seu canto de ódio. Esperando, apenas esperando. Os covardes moradores em suas calças de moleton e pano fino branco, suas pernas brancas e seus joelhos roliços. Apenas ouvem e fingem que não sabem. Que não sabem sobre seus filhos e filhas. Apenas regam, conhecem bem suas plantas.

Na primeira página do meu caderno O Lulu (nome fictício inventado para proteger a integridade da vítima nessa história), era rolicinho, gordinho, parece Lingüiça mas não é, pêlo beginho, tipo cachorro maloqueiro e muito esperto. Manchas pelo corpo, metade mãe metade pai. Sempre indeciso. Quando ele quebrou uns dentes na briga com o Clóvis (meu outro cão) já era velhinho e papai achou que não serviria de nada que nós o levássemos no veterinário. Ele decidiu dois pontos travesssão amanhã de manhã largo ele lá no outro bairro, ele fica e morre por lá, daí não precisamos enterrar ponto final

E ele veio correndo com todas as forças, não entendeu o que aconteceu É pra eu correr? Beleza, vamo aí. Ei, vocês estão correndo bastante, está ficando difícil vocês vocês podem parar agora. Podem parar agora? Não consigo cheirar vocês estão muito longe, Mas ainda ouço o barulho, do caminhão. Não consigo mais correr...parem por favor...parem por favor...oh deus......oh deus....parem por favor........oh meu deus........oh meu deus do..... oh..........
Ei Vocês...................................Não podem........................voltar?


Faltava então somente oito dias para o encontro, portão 8, poltrona 18, a do amigo 17. poltronas 17/18 1+7+1+8= 17 1+7= 8, dia? 26. 2+6=8. Muita coincidência. Oito, o símbolo do infinito em pé. Engraçado. Mas foi nessa situação que ele a conheceu. Ana. Nome de 3 algarismos, o primeiro teste que fez com a revistinha da tia, de 1970, sem cor ainda, sem figura, dizia, número 3 seu número da sorte. A tríade. O encontro. O triângulo. O equilíbrio perfeito. De olhos abertos, fazendo tipo? Lembrou de uma revista pornô do tio. A cigana com uma chana extremamente peluda abrindo a saia. Ficou de pinto duro e acabou erguendo a revista. Estava tão confortável no avião, somente com seus pensamentos sujos debaixo de uma revista de futilidades. Estava quase dormindo e o tesão apareceu. Tão de surpresa, por causa do sol esquentando as pernas, que nem percebeu. Mas Ana sim.

Oito dias. Dentro do seu carro. De madrugada procura a rua. Sua cabeça zanza, A encruzilhada. Onde seus pais namoravam, sempre vidro quebrado, mas não foi ele dessa vez. Não suporta. Ainda de cinto enfia sua mão pela beirada da calça e abre o zíper. Retira seu membro, cospe na mão e esfrega. Com sofrimento. Seu cérebro em pedaços gira aflito, sente formigamento, parece tão duro, como gozo de criança, explosivo, sobre o volante, sobre sua calça. Ele acelera. A noite--------simplesmente-------------grita.

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